quinta-feira, 1 de novembro de 2007

Autoramas - Teletransporte
***Surte, e daí?***



A banda carioca Autoramas criou em seu mais recente disco – Teletransporte (2007) – um legado de canções que representam as dificuldades e frustrações da sociedade moderna. Dificuldades? Frustrações? –“Lá vem mais um daqueles disquinhos deprês!”.
Muito pelo contrário. Os Autoramas fizeram isto com simplicidade, criatividade e muito bom humor.

Neste disco a formação conta com Gabriel Thomaz (guitarras e vocais), Selma Vieira (baixo e vocais) e Bacalhau (bateria), e têm nas letras sarcásticas e inteligentes do também principal compositor da banda, Gabriel, um dos seus maiores trunfos.

Nos trabalhos anteriores, Stress, Depressão e Síndrome do Pânico (2000), Vida Real (2001) e Nada Pode Parar os Autoramas (2003), o que dava o tom era a mistura surf music + jovem guarda, o que não ocorre em Teletransporte. A produção de Kassin e Berna deixou o disco mais pop, no bom sentido que a palavra carrega. A maioria das músicas poderiam tocar em rádios FM e melhorar a qualidade da programação já escassa de bons grupos, tudo isso, é claro, caso não houvesse a Lei do Jabá. O baixo, que antes era alto e distorcido, agora é mais contido, e a banda muitas vezes soa mais guitar do que surf music. Como eles nunca se nomearam como uma banda de surf, isso não representa efetivamente um problema.

O disco abre com a dobradinha Mundo Moderno e Fazer Acontecer. A primeira com a levada mais rock, e a segunda, com a guitarra fazendo as vezes de um efeito eletrônico. A primeira com a letra reclamando da prisão que a grande quantidade de novidades pode criar, enquanto a segunda versa sobre o poder de se tomar as rédias das situações, o que neste caso, pode servir tanto para alguém que joga o lixo no lugar correto, quanto para um CEO de uma grande corporação, e as milhares de decisões que tem de tomar diariamente.

A 300 Km/h é tida por Gabriel Thomaz como a melhor canção que já compôs. Seu ritmo é calmo, típico de bailes daqueles para dançar de rosto colado. E quem não se rende aos versos “Eu estou a 300Km/h na sua direção, sem freio...”?

Marketeiro é um sátira sobre artistas que se deixam moldar para atender às expectativas do público. Não há nada mais atual do que isso, não é verdade?

Entra em seguida Hotel Cervantes, uma surf music desacelerada sobre amores, urgências e tranqüilidade.

A próxima, Já Cansei de Te Ouvir Falar, com os vocais divididos com a ótima baixista Selma Vieira, também possui uma levada rock, e fala sobre um relacionamento mal resolvido, e da peleja em buscar alguém fora dos padrões convencionais.

Identificação mostra os Autoramas misturando Roberto Carlos com Freud. A música lembra muitas canções da jovem guarda, e a letra, alguém que se conheceu melhor por ter ódio de si, e que se decepciona ao perceber que não é a pessoa que realmente queria ser. Colada em Identificação vem Surtei, pesada e declamando um hino sobre stress.

Conseguem também mostrar que nem só de peso vivo o homem, e Eu Mereço conta a história de alguém que se expôs demais, e juntamente com a próxima, Muito Mais, mostram a superficialidade das relações humanas. E isso acontece de verdade? Claro que não. Big Brothers estão aí para provar o contrário.

Digoró, uma versão de uma banda brasiliense chamada Radical Sem Dó é fora de série. Instrumental esquizofrênico e letra viajante que envolve meninos drogados, um seqüestro de naves de fliperama e explosões. É ficção científica lado b psicótica.

O disco fecha com Panair do Brasil, uma balada instrumental em “homenagem” à crise aérea brasileira, que pode servir para relaxar diante das horas de atraso enfrentadas nos aeroportos, seguida de O Inesperado, com título auto-explicativo, e por último, Guitarrada, outra instrumental em homenagem ao gênero musical paraense que mistura choro, carimbó e jovem guarda.

Enfim, um disco que trata de crises amorosas e aéreas, falta de tempo, medos, stress, exposição pessoal e todas essas mazelas do mundo moderno, mas que no final te deixará feliz e você esquecerá de tudo isso, inclusive do que leu agora.


A banda disponibilizou todos os discos lançados até agora para download gratuito. Faça o download dos discos Stress, Depressão e Síndrome do Pânico, Vida Real, Nada Pode Parar os Autoramas, Teletransporte e algumas raridades no link abaixo:
http://www.tramavirtual.com.br/autoramas

Conheça mais sobre a banda:
http://autoramas.uol.com.br

Comunidade no Orkut com Participação
dos Integrantes da Banda: Entre Aqui

6 comentários:

  1. Ai meu Deus, prometi a mim mesma que não comentaria...rsrs...Fui apresentada aos Autoramas a menos de um ano, mas já posso dizer que é uma banda para a vida inteira !!!
    A resenha esta maravilhosa Fábio !!

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Lou, como você está escrevendo bem!
    Cliquei no link do e-mail e quando abriu, li e pensei: Ou o Binho gostou da resenha e copiou de algum lugar ou realmente está fazendo um belo trabalho!
    Bom constar que é a segunda opção!
    Parabéns!
    Já dá para arranjar uns bicos de free lance!
    Me lembrei de quando eu pensava em viver fazendo isso, você lembra? Rs
    Influência Lester Banggiana?
    Talvez se eu tivesse tão boa fluência eu teria ido para frente!

    Beijos, saudades!

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  4. Ah, desengavetou!
    A não ser que você mude radicalmente, já dá pra dizer que consolidou um estilo de escrita próprio, bem legal.

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  5. Cara, muito maneiro o teu blog... Cheguei aqui via o link q vc postou no orkut e vou falar q curti pra caralho o "não são 12 novas faixas, mas sim 12 rounds" q vc mandou na resenha do Fome de Tudo aí embaixo.

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  6. Hey garoto!! Adorei sua resenha!!!
    PARABÈNS!!!
    Bjão

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