quinta-feira, 8 de novembro de 2007

Pato Fu - Daqui Pro Futuro
***A vida é como um gás...**


Poucas bandas no cenário musical brasileiro, e quiçá mundial, podem causar inveja por possuir uma obra irrepreensível. A banda mineira Pato Fu, que lançou seu primeiro trabalho, Rotomusic de Liquidificapum (1993), e no ano de 2007 deu ao mundo Daqui pro Futuro, é uma delas.

Um amigo fez uma observação interessante: as músicas do Pato Fu, além de soarem sempre originais, nunca soam deslocadas. Não é o que vemos acontecer com outras bandas, que ao lançarem um novo disco, temos em muitos casos a impressão de que as músicas são sobras do disco anterior. O Pato Fu está sempre a diante, mas mesmo assim, qualquer canção do álbum Gol de Quem? (1994) poderia estar em Isopor (1999), ou qualquer faixa de Televisão de Cachorro (1998) entraria facilmente em Toda Cura Para Todo Mal (2005). A mesma singularidade das canções acompanha a pluralidade da obra desta que no ano de 2003 foi considerada uma das 10 melhores bandas do mundo pela Revista Time, ao lado de gigantes como U2 e Radiohead.

Daqui pro Futuro segue a mesma linha criativa contínua criada pela banda, mas como um outro amigo observou, este disco está menos para John e mais para Fernanda. O lado experimental da banda deu espaço para harmonias mais simples e enxutas, com os efeitos eletrônicos menos aparentes e Lulu Camargo desenvolvendo um excelente trabalho com pianos e teclados.
Muitos disseram que a banda desacelerou depois do nascimento de Nina, filha de John Ulhoa e Fernanda Takai, e que a banda fez um disco em sua homenagem, o que não é necessariamente verdade. Toda Cura Para Todo Mal, foi completado durante a gestação de Nina, e nem por isso é um disco calmo. O que acontece é que como de costume o Pato Fu se aventurou mais uma vez em criar algo de inusitado em sua obra, e conseguiram, criando muito mais baladas pop do que músicas para pular e dançar.

E realmente o disco abre calmo com 30.000 pés, que já é pra iniciar com espírito de liberdade.

A única canção realmente feita em homenagem à Nina é Mamã Papá, mas os versos “conte sua história pois sua memória pode um dia se apagar” servem para qualquer um de nós, sendo pais, mães, filhos, avós...

A melancolia é mantida em Espero, outra balada a lá Pato Fu, com vocais de John ao fundo.

Cities in Dust, cover do maior sucesso da banda de pós-punk inglesa Siouxsie and The Banshees, presente no disco Tinderbox de 1986, é a homenagem do álbum, já que geralmente o Pato Fu inclui alguma versão de outro artista em seus trabalhos. É uma boa cover, mas não atinge o status de versão por ser bastante parecida com a música original.

Tudo Vai Ficar Bem tem um dueto de Fernanda Takai com Andrea Echeverri, vocalista da banda colombiana Aterciopelados, e é uma das melhores faixas do disco, também por conta das guitarras e bateria um pouco mais pesados.

Como a banda possui inúmeras referências, fizeram uma interpretação bem pessoal em A Hora da Estrela, criando uma ponte entre a busca pela felicidade vivida por Macabéa, do livro homônimo de Clarice Lispector, e a busca por sucesso a qualquer custo.

Tida com um hino gay, Woo! trata de um grito de liberdade muito mais amplo, algo como o antigo sucesso de Raul Seixas que dizia “Faça o que tu queres, há de ser tudo da lei”.

Vem A Verdade Sobre o Tempo, e para entender esta é preciso sentir as palavras: “...a vida é muito mais que os dias, que os deuses, que jornais...”

E ainda tem Quem Não Sou, que pode ser considerada a mais experimental do disco, mas simplesmente pelos efeitos de distorção das vozes, levada minimalista sons menos orgânicos.

Vagalume é uma música daquelas que costumeiramente chamamos de “fofas” e que de hoje em diante será tocada em diversos luais.

A melhor faixa do disco, Nada Original, acerta no título, pois não trás nada de diferente do que o Pato Fu tenha feito até aqui, mas mostra a competência da banda em compor belas canções, com grandes letras e fugindo sempre de temas óbvios.

O disco fecha com 1000 Guilhotinas, mas uma canção light, um clima que mistura futurismo com idade média. É uma boa canção estranha.

Ao final do disco, a impressão que tenho é que o ele remente sempre ao tema de liberdade, seja a liberdade de nascer e morrer, de criar asas e voar, ou até mesmo da falta de liberdade.
Mas o que salta aos olhos e ouvidos é a produção impecável do disco. O projeto gráfico de Conrado Almada é primoroso, e a produção musical mais uma vez assinada por John, mostra que além de ser um dos melhores guitarristas e compositores do país, também consagrou-se com um dos maiores produtores da atualidade, e tem liberdade para fazer o que quiser no estúdio 128japs, que mantém em sua casa, e de onde consegue tirar os timbres mais eficazes de todos os instrumentos.

Não é o melhor trabalho da banda, que sempre mantém a regularidade da qualidade de seus discos, mas é com toda a segurança um dos melhores lançamentos do ano de 2007.

E daqui pro futuro vamos esperar pra ver o que acontece.


Conheça mais sobre a banda:

http://www.patofu.com.br

http://www.myspace.com/patofu


4 comentários:

  1. Nossa, muito bom...

    Em destaque no disco, o efeito sonoro de " Quem não sou",nona faixa, que dá impressão de "Pato Fu".

    Sobre 30.000 pés,ela foi composta, numa viagem, a uma turnê, no Japão. Dentro do Avião, na volta, que Jonh compôs essa maravilhosa canção,umas das melhores do disco.

    P.s.:Quero que ver, a resenha do, "Onde Brilhem Os Olhos Seus"...=

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  2. Não gosto de faixa-a-faixa. Mas gostei bastante do cd e diga-se de passagem resenhei primeiro =].
    Bom brincadeiras à parte bom textículo, e o cd é maravilhoso. O primeiro cd do pato fu sem nenhuma esquizofrênia, como disse um amigo meu!

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  3. O pato Fu é o maior expoente do niilismo miguxo.

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  4. Realmente, Pato Fu é muito bom, esse não é o melhor cd deles, mas está na mesma qualidade dos outros...
    Na minha opinião o melhor álbum da banda é "Isopor", mas "Daqui pro Futuro" não deixa a desejar.
    A faixa do cd que mais me tocou foi "A Verdade sobre o tempo", pois trás mesmo a sensação que estamos revivendo o tempo!

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