terça-feira, 25 de março de 2008

Jazzblaster - Isto Não é Um Disco de Jazz
****As mais circenses ilusões...***


Sofri por noites da minha vida em casas de shows, e os causadores deste sofrimento foram os menos óbvios. Nem a distância a percorrer da minha residência até o centro da cidade, onde as casas estão localizadas, nem ter de voltar em sábados ou domingos em coletivos lotados me desanimavam. O problema mor era que, para que eu pudesse assistir ao show desejado, da banda que gostava, tinha de esperar uma série de bandas medianas. E não eram poucas! Chegava-se ao absurdo número de 3 bandas de abertura por noite. É claro que dentro do cenário da música alternativa há sempre bandas mais conhecidas que convidam outras menos conhecidas para abrirem o espetáculo. Mas confesso que nestas noites, amaldiçoava Kurt Cobain e o Nirvana por terem lançado o disco Bleach, a demo mais vendido do mundo, que fez com que todo garoto ou garota acreditasse que era fácil criar uma banda. Eu também me enveredei em ter banda, mas um dia percebi que não era tão simples assim. Apenas empunhar uma guitarra e criar acordes dissonantes não era suficiente para ser uma banda sobressalente. Era preciso talento. Entretanto, esta é outra história que um dia contarei.

Todo este imbróglio serve para dizer que muitas bandas surgem com o intuito de fazer a diferença, mas poucas conseguem se tornar únicas.

Em meio a toda a confusa cena de música alternativa paulistana, surge uma alternativa de fato às incessantes horas de espera pelas bandas head-liners. Jazzblaster é seu nome.

Formada em 2005, a banda já foi quarteto e hoje é um trio. Já teve em sua formação, outros dois bateristas (Ricardo Sartori e Rodrigo Araújo), além de outro baixista (Martim Batista, que atualmente toca na Zefirina Bomba). Após algumas mudanças de formação, a banda se estabeleceu com Pablo Lopes (bateria), Nani Lemos (baixo/guitarra), Vini F. (baixo/guitarras e vocais). Tem influência de guitar bands dos 90´s (Pavement, Superchunk, Elastica e Weezer, só para ficar em alguns nomes) e delas, trás o que há de melhor: melodias trabalhadas, criadas pela versátil cozinha da banda.

As letras, em português, consagram Vini F., principal letrista da banda, como o grande compositor que o grande público ainda não conheceu. Vini F. trouxe para o rock´n´roll a sutileza em letras inteligentes, sem soarem "engraçadinhas". São canções repletas de poesia, que nos envolvem em um mundo particular e peculiar.

Outro fato relevante em relação à dinâmica da banda foi o modo como o seu disco de estréia, Isto Não é Um Disco de Jazz (2007) foi lançado. Antes do Pato Fu ter lançado Daqui pro Futuro no formato virtual primeiro que no formato físico, e muito antes do Radiohead ter surpreendido a indústria fonográfica com o lançamento do seu último trabalho, In Rainbows, para download com valores definidos pelo usuário, o Jazzblaster já havia arquitetado o lançamento mais condizente com o forma de distribuição de música atual: No dia 07/07/2007, ao tocar na Toy Lounge, casa de música alternativa de São Paulo, distribuíram gratuitamente as 8 músicas do disco, em formato MP3, para todos que compareceram ao show munidos de seus MP3 Players, Pen Drives e IPods. Forma de lançamento mais moderna, impossível.

Das 8 faixas do disco, destaco algumas para quem quiser se iniciar no trabalho da banda:

Asfixia faz jus ao nome. Cantada em ritmo frenético que mal pode ser acompanhada, faz com que sintamos vontade de gritar a plenos pulmões: “meu sangue jorra cada dia mais, meu sangue pede uns minutos mais”, diz a letra, que também te dá liberdade o suficiente para nunca mais precisar limpar o que sujou.

A música que mais me impressiona é As portas e os Olhos Entreabertos, pelo ritmo suave e límpido, e a letra descritiva de um caso de solidão. “Passava as mãos tirando o pó da velha escrivaninha azul” é uma prévia de versos cativantes.

Ida, última faixa do disco, insere o ouvinte em um universo semelhante ao d´O Processo, de Kafka. Ao iniciar a música assim: “...e só por isso não vou te levar embora daqui”, o compositor faz com que fiquemos sem saber o motivo do abandono e do castigo, tal como Joseph desconhecia o motivo de seu julgamento no livro citado. A letra começa reticente, e cria reticências interpretativas também.

Tive a oportunidade de conferir a banda ao vivo, infelizmente, por apenas uma vez. Como já citado nas primeiras linhas, precisei esperar algumas bandas, que como de costume atualmente, pecam pelo excesso de humor e ainda acreditam que atitude é subir ao palco e falar mal do Caetano Veloso.

Contudo, o Jazzblaster não decepcionou e fez um belo show, mesmo que curto. A banda tem muita energia e carisma, ótimas músicas e ótimas letras, e acima de tudo, originalidade. Nani e Vini se revezam na guitarra e baixo, Pablo toca bateria enquanto canta em uma cover do Weezer, criando uma ambiente intimista, descontraído, e proporcionando um verdadeiro deleite aos olhos e ouvidos. Sinceramente, não entendo como ainda não conseguiram um destaque maior na mídia, especializada ou não, o que faria com que os shows fossem mais freqüentes e a justiça fosse feita.

Há perguntas cujas respostas são indefinidas: Será que existe vida após a morte? Será que existe vida em marte? Será que garagens ainda produzem boas bandas no Brasil?

Se depender do Jazzblaster, ao menos uma destas perguntas já tem resposta.



P.S.: Devido à dificuldade de lançamento do disco em formato físico, em breve a banda o disponibilizará para download em seu site. Não importa se é um disco de jazz ou não. O que importa é que é música de altíssima qualidade, o que é sempre bem-vindo.

Por enquanto, alguns vídeos e músicas podem ser conferidos nos links abaixo:

http://www.jazzblaster.com.br

http://www.myspace.com/thejazzblaster

Comunidade no Orkut com Participação
dos Integrantes da Banda: Entre Aqui


6 comentários:

  1. Toda vez que leio qualquer um dos seus textos eu tenho vontade de conhecer a banda e/ou saber mais sobre o que vc esta escrevendo. Preciso dizer mais alguma coisa?
    Bjooo
    Sah*

    ResponderExcluir
  2. o vini é fodaaa!
    so agora to ouvindo a gravação final do cd! tá lindo!

    parabéns ao JazzBlaster e parabéns pela resenha!!!

    Daniel Akashi

    ResponderExcluir
  3. Esse disco é muito bom. Pena ter apenas 8 músicas.
    E ironicamente, neste show citado na resenha, o Jazzblater tocou ANTES de uma dessas bandas engraçadas-demais-que-falam-mal-do-caetano, a qual não lembro o nome, ainda bem.

    ResponderExcluir
  4. Conheci o Jazzblaster no onibus voltando pra casa após um dia de trabalho. Não, não estava tocando no rádio do busão. O dono desse blog me disse: vc precisa ouvir esta música(no mp3). Não lembro qual era a música, mas sei que acabei ouvindo o cd inteiro e fiquei triste por ter acabado muito rápido e comecei ouvir novamente...
    Ainda não tive a oportunidade de ver a banda ao vivo, mas na próxima apresentação com certeza estarei lá, e enquanto as funny bands estiverem tocando vou tomar uma biritinha pra passar o tempo.

    ResponderExcluir
  5. poxa, to emocionado!! valeu mesmo!!

    ResponderExcluir
  6. Sr novais, queria mto hj ter a paciência necessária pra ouvir o trampo dessa banda... li seu texto, fiquei com vontade, mas acho q se ouvir hoje, minha crítica vai estar aguçada ao extremo...rs e isso pode ser positivo ou negativo, melhor não arriscar...rs
    Qndo estiver mais sussa, farei isso. Tenha certeza.

    Beijo, belo texto.
    K pequena tulipa

    ResponderExcluir

Diga o que achou: