sábado, 2 de fevereiro de 2008

Lobão - A Vida é Doce
***As vezes é melhor deixar a onda passar...***



Eu sou o tenebroso, o irmão sem irmão, o abandono, inconsolado, o sol negro da melancolia”: assim começa um dos discos mais importantes que já passaram por estes ouvidos. Achava muito estranho para uma pessoa que não acompanhasse, ou mesmo para quem acompanhou a carreira do cantor desde os anos 80, entender àquele álbum. Era a contramão da contradição do que fazia nos anos anteriores. Nada de rock´n´roll, nada de new wave, nada de pseudo-MPB. Seguiu o caminho oposto ao mainstream e das facilidades radiofônicas, não emplacou hits, numerou os CD´s, vendeu um número de cópias acima do normal para os padrões e reinventou o conceito de música independente no Brasil.
Criou um disco de músicas não-entituladas rock, Nostalgia da Modernidade (por sinal, um dos melhores nomes de disco que já vi), de 1995, um outro de música “eletronizada”, A Noite, de 1998, até chegar a este que é a sua obra máxima (até o momento), A Vida é Doce, de 1999.
Tenho um sério problema em me lembrar quem me apresentou alguns artistas e bandas por ter sido há algum tempo, e na época não devo ter prestado tanta atenção, mas podem continuar me emprestando livros, cd´s, discos e DVD´s que minha memória está melhor, e não apenas não esquecerei, como ainda, devolverei todos.
Deste lembro-me vagamente que foi um amigo que mora na rua de cima até os dias de hoje. O disco vinha encartado em uma revista, que tinha algumas letras e poemas. Ele tinha comprado em uma banca de jornal. CD em banca de jornal? E não era um daqueles de coleções ou de demonstração de jogos para computador? O conceito de distribuição era diferente, e por isso conseguiu sucesso.
A qualidade do disco é incontestável, e somente a falta do pagamento de “jabá” explica porque não alcançou sucesso radiofônico. Algumas faixas me chamaram atenção, mas ainda preferia o material produzido nos anos 80, como todo bom ouvinte de rock nacional FM. Tempos depois adquiri este disco em um Sebo, e nunca mais parei de ouvir. As intenções dos trabalhos anteriores foram mescladas, então as boas letras continuaram lá, junto com guitarras e efeitos eletrônicos. Arrisco até a dizer que é um disco bastante voltado ao trip-hop em seu melhor estilo Portishead. Músicas como Universo Paralelo, Tão Perto, Tão Longe e Mais Uma Vez mostram que efeitos eletrônicos sutis funcionam quando bem empregados. Descobri que a obra produzida pelo artista durante sua fase independente/anos 90 era infinitamente superior ao que produziu enquanto em uma gravadora major.
De todas faixas, as que mais merecem destaque são El Desdichado II pela letra poética e triste, cujos versos iniciais da canção se encontram no princípio do texto. O compositor um dia disse que foi escrita para um amigo que foi assassinado por uma criança de 13 anos, mas nunca soube deste história com mais profundidade. Tem também Tão Menina, descrita como “o hino da criança junkie” e com os versos “suas lágrimas que nunca brotaram inudam sua alma”, e a faixa título, A Vida é Doce, que na minha opinião é a música mais completa feita nos anos 90. A instrumentação orquestrada, misturando o trip-hop do Massive Attack, vocal falado, estilo hip-hop e letra fora de série, com múltiplas interpretações, e que ao final só nos faz sentir vontade de correr e pedir perdão.
O sentimento me persegue sempre que ouço a música A Vida é Doce é uma vontade imensa de chorar, e não é pelo drama ou tristeza da música, é por sua beleza. E enquanto ouço, fico feliz, por saber que ainda sou capaz de chorar diante de uma música do Lobão, um filme de Paul Thomas Anderson e um livro do Saramago, e me alegro em saber que palavras ainda tem um poder que nenhum corretivo apaga e nenhum coração resiste, por mais belas ou horrendas que sejam.

Conheça mais sobre a banda:

http://mtv.uol.com.br/lobao/news

http://www.myspace.com/lobaouniversoparalelo

10 comentários:

  1. Hmmm... Vc escreve mto bem,
    e avaliou mto bem o disco do Lobo...

    Sou uma grande fã do trabalho dele
    e concordo com a maioria das coisas
    escritas por vc sobre este álbum...

    Emfim... Bjo!
    \o7

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  2. Não sou fã do Lobão;mas a música tema é bem legal!
    Essa vc desenterrou!
    Parabens porquinho.Belo texto!

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  3. Fabio, belo texto... eu, q não ouvia Lobão há algum tempo, fiquei com saudade... acho q vou chegar em casa e ouvi-lo...rs...

    ;)

    Beijo

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  4. E sem contar a última faixa do cd "amanhecendo na lagoa" que é totalmente instrumental no estilo bossa nova off.

    Taí mais um álbum que compõe a "doutrina das músicas certas".

    O Lobão dá um soco em nossas carinhas deslavadas com tantas composições singelas e ligeiramente agressivas.

    Adorei Fabio! Muito bem lembrado!

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  5. "...e me alegro em saber que palavras ainda tem um poder que nenhum corretivo apaga e nenhum coração resiste, por mais belas ou horrendas que sejam."

    Não gosto de Lobão,vc sabe, mas gosto da forma como vc escreve!


    Bjos

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  6. Acho a obra do Lobão nos anos 90 e 00 mais relevante do que a dos anos 80 exatamente pelo primor na parte instrumental, que se mostrou bem superior aos primeiros anos, que era boa, mas não se destacava dos demais artistas, né? Meio carne de vaca. Mas como letrista sempre o achei foda, a qualidade durante toda carreira é mais nivelada, mas A Vida É Doce é um dos pontos altos. E belo texto, fela!

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  7. cara, cheguei aq sem qrer.. atrás de mais infos sobre o cd do lobão, "a vida é doce", que é MUITO bom!
    amo esse álbum. todo ele é completo pra mim. marcou uma fase e ainda me faz chorar ao escutá-lo.
    meio sombrio, triste, cheio de vida e poesia, cm vc citou.
    gostei do texto. parabéns.
    e esse cd realmente, merece ótimos destaques.
    :D

    abraço e PAZ!

    ;)

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  8. eu comprei esse disco, que não empresto de forma alguma, quando pouquíssimas pessoas compraram. o disco, da faixa 05 em diante, é uma crônica, relatando seu estado de espírito em meio à separação de sua esposa (há uma dedicatória a ela no disco). a música título, A Vida é Doce, é o relato de uam noite insone, em pleno auge da separação, com a descrição dos ruídos da rua, em plena madrugada, entremeado por uma possível ligação telefônica da "quase" ex-mulher. é, possivelmente, a seu modo, dentro da música brasileira, sua letra contém um dos mais contundentes relatos de estado de espírito de alquém imerso em um processo de separação conjugal, não conhecendo eu (dentro de meu universo que reputo limitado, mas repleto de lembranças de músicas de "fossa" e "dor de cotovelo") outra que alcance esse transe, superando, até mesmo, Atrás da Porta de Chico Buarque, que Sara Vaughn reputou uma dor "in extremis"...

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  9. Parabéns pelo ótimo post e obrigado por disponibilizar o disco, eu já estava mesmo querendo parar para conferir esse disco há tempos.

    Valeu.

    =D

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  10. Considero este o melhor disco do Lobão e um dos melhores discos brasileiros da década de 90. Até um primo meu, muito fã de rock progressivo, que não gostava nada do Lobão ficou vidrado nesse som. Eu me lembro de ter comprado numa banca de jornal mesmo nos idos de 1999. Tem músicas memoráveis, bem diferente do que Lobão fez nos anos 80. Cd indispensável.

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